quinta-feira, outubro 13, 2016

::Entrevista Com Drake Chrisdensen - Ruins of Elysium::



O Ruins of Elysium, banda oriunda de Belo Horizonte-MG, de Symphonic Epic Metal está se preparando para lançar o seu próximo trabalho, que receberá o título de “Seeds of Chaos And Serenity”. Convidamos o vocalista Drake Chrisdensen para bater um papo sobre a banda, sua formação musical e sua luta e posição sobre o movimento LGBT. Confira abaixo como foi a entrevista.

MORTICÍNIO PRODUÇÕES–Provavelmente o grande diferencial da Ruins Of Elysium para as demais bandas é a presença de um tenor nos vocais. Gostaria que você nos contasse um pouco sobre a sua formação musical e seus gostos também.

DRAKE CHRISDENSEN – Olá Flávio e leitores da Morticínio, primeiramente gostaria de agradecer a oportunidade de participar dessa entrevista. Bom, eu comecei a cantar quando entrei no coral da minha escola, isso 14 anos atrás e nunca parei. Estudei canto popular e me encontrei no lírico, onde tive a honra de aprender com grandes nomes como Fernanda Araújo, Eliseth Gomes, Janet Williams e Melissa Ferlaak, que começou sendo uma inspiração pra mim, depois minha professora e hoje é uma das minhas melhores amigas.  Morei em Berlin por um ano para dar continuidade aos meus estudos e também já me aventurei pelo belting e pelo teatro musical. Basicamente, erudito, metal e algumas coisas do pop como Elton John, Sarah Brightman e Lady Gaga são meus estilos favoritos.

MORTICÍNIO PRODUÇÕES – Quais são as bandas e músicos que influenciam você e o resto da banda durante as composições?

DRAKE CHRISDENSEN – No erudito, gosto muito do trabalho do Jonas Kaufmann e do Thiago Arancam, eles são definitivamente inspirações para minha performance vocal. A Ruins of Elysium tira inspiração de vários lados diferentes e acho que por isso que conseguimos fazer um som diferente. Eu sou muito fã de músicas extremamente épicas, grandiosas, temas de videogames e filmes e esses elementos nós trazemos pra construção da nossa música. Talvez a banda que mais me inspire, pessoalmente, seja o Versailles, mas acho que Xandria, Fleshgod Apocalypse, Dark Moor e Septic Flesh, sendo algumas das minhas bandas favoritas, exerçam também uma influência na hora de compor.

MORTICÍNIO PRODUÇÕES–Como surgiu a ideia de cantar dessa forma em uma banda de metal?

DRAKE CHRISDENSEN – Eu sempre quis ouvir uma banda de metal que contasse apenas com um tenor operístico nos vocais, mas não existia, então criei a minha. Temos cantoras incríveis usando a técnica lírica no metal, mas por que tão poucos homens? Eu não sei dizer...acho que vem com aquele estereotipo de que o frontman tem que ser agressivo na hora de cantar e vocal erudito é tido como “delicado”.

MORTICÍNIO PRODUÇÕES–Ainda sobre as preferências musicais, vocês já fizeram uma versão de uma música da Lady Gaga e agora estão preparando uma versão de uma música da Amy Winehouse para o próximo álbum. Como o público tem reagido à esse “ecletismo”?

DRAKE CHRISDENSEN – Nossos fãs e amigos curtem muito e acho que é legal mostrar lados diferentes da música onde o metal pode se encaixar. Lady Gaga é minha diva (risos) e não poderia passar sem fazer uma versão de uma música dela, que, como fã assumida de Heavy Metal, escreve canções que caem como uma luva na pegada metal. Fizemos também uma versão da Largo Al Factotum (a ária do “Figaro”), da Ópera “O Barbeiro de Sevilla” e também deu super certo.

O vocalista Drake Chrisdensen durante as gravações do novo álbum

MORTICÍNIO PRODUÇÕES–Você é um ativista LGBT declarado. Como você enxerga a relação do público do metal com essa causa e com vocês? Você já passou por alguma situação desagradável durante apresentações da banda ou em outros eventos de metal?

DRAKE CHRISDENSEN – Bom, eu acho que a homofobia no metal e rock vem mais atrelada ao machismo do que qualquer coisa. Crescemos com ícones como Freddie Mercury e Rob Halford, então na minha vivência eu percebi que o meio metal não costuma ser hostil ao gay...DESDE que ele não dê pinta, DESDE que ele seja discreto e eu acho isso muito problemático porque é uma consequência da repulsa ao feminino que impregna o cenário. Quando uma mulher está na banda, seu talento é automaticamente questionado. “Nossa, mas sua guitarrista é mulher?”, “Sua baterista é mulher e toca bem, hein?”, sem falar nos costumeiros “música de mulherzinha”, “metal de mulherzinha”, etc, como se isso fosse algo depreciativo. Você pode estar no Arch Enemy, tocando Death Metal, mas por ser uma banda com uma mulher no vocal, já é colocada no mesmo rótulo de “female fronted metal” que muitos torcem o nariz. E quando estou no palco, estou sempre de salto alto e maquiagem pesada, e foram nesses momentos em que recebi comentários maldosos ou olhadas mal-encaradas, no momento em que usei elementos ditos “femininos”, mas já fui com meu ex namorado pra shows e não recebemos qualquer tipo de hostilização, mesmo nos portando como um casal qualquer: andando de mãos dadas, trocando carinhos de vez em quando. Nem uma olhada sequer. Pra mim, respeito “condicionado” não é respeito.

MORTICÍNIO PRODUÇÕES – Algumas causas vêm ganhando força ao longo do tempo, especialmente nas redes sociais. Provavelmente nunca se combateu tanto o machismo e a homofobia como tem acontecido atualmente. Como você analisa o quadro do Brasil nesses assuntos? Você acredita que é possível olhar para a situação de uma forma otimista?

DRAKE CHRISDENSEN - O metal e o rock surgiram como forma de contestar dogmas sociais, qualquer tipo de preconceito ou conservadorismo nesse estilo é um absoluto contrassenso, então me choco vendo headbangers que se orgulham de serem conservadores e até mesmo se taxarem de “opressores” como se isso fosse algo a se ter orgulho. Então, em alguns momentos, eu me chateio muito mas me lembro do quanto estamos nos impondo e reivindicando nossos direitos...e conseguindo esses direitos! Representatividade importa demais e eu não sou o único gay no metal no Brasil, pelo contrário, somos muitos e estamos conquistando espaço na sociedade brasileira.

MORTICÍNIO PRODUÇÕES–O Ruins of Elysium conta com integrantes de diferentes nacionalidades. Essa diversidade de culturas contribui de alguma forma durante as composições ou isso gera algum tipo de atrito ou empecilho?

DRAKE CHRISDENSEN – O maior empecilho é a impossibilidade, no momento, de fazermos shows com a banda completa, mas é apenas isso. De resto, funciona super bem. Nosso guitarrista é também nosso produtor e pensamos muito parecido. A mesma coisa com a programadora das nossas orquestras, é tudo bem simbiótico entre nós e flui muito tranquilamente. Acho que é natural que cada um de nós traga elementos culturais na nossa bagagem criativa, tem funcionado até agora.

MORTICÍNIO PRODUÇÕES –A banda ainda é brasileira ou vocês romperam as barreiras geográficas e se consideram “do mundo” agora?

DRAKE CHRISDENSEN – A banda é brasileira da mesma forma que é italiana e grega. Já não podemos nos ater a somente uma nacionalidade por causa dos membros de nacionalidades diferentes, então, de certa forma, acho mais justo considerar “do mundo” pra poder representar todos nós.

MORTICÍNIO PRODUÇÕES – Como está o crowdfunding para o próximo álbum?

DRAKE CHRISDENSEN – O crowdfunding foi uma forma de dar aos nossos fãs e amigos coisas que nos pediam a muito tempo: versões físicas, camisas, brindes, etc, mas a maior parte dessas pessoas não contribuiu. O álbum vai acontecer independente do crowdfunding, mas provavelmente não faremos mais edições físicas.

MORTICÍNIO PRODUÇÕES – O EP “Daphne” foi lançado recentemente. Em maio deste ano, certo? E sem perder tempo, vocês já estão gravando o próximo trabalho. Como foi a recepção do público em relação ao EP?

DRAKE CHRISDENSEN – Foi excelente. Muito melhor do que eu esperava, sendo sincero, porque Daphne foi o primeiro lançamento realmente grande nosso e que possibilitou às pessoas ouvirem e pensarem “então ISSO é a Ruins of Elysium: é épico, é ativista, é sem fronteiras” e pode ser difícil de agradar nessa primeira impressão. Acho que o que chamou atenção é que não tivemos medo de dar tudo de nós nesse lançamento, não teve um “ah, acho que ainda não estamos preparados pra isso”, NÃO, vai ter épico de 10 minutos, vai ter música puxando pro death metal sobre homofobia, vai ter ária de ópera versão metal e mais, muito mais! Então acho que a ousadia de Daphne chamou atenção.

MORTICÍNIO PRODUÇÕES –O álbum de estreia da banda tem tudo para ser marcante. Tem até faixa com quarenta minutos de duração. Será um álbum bem longo, pelo visto. Você pode nos contar um pouco mais sobre este trabalho e quais são as expectativas?

DRAKE CHRISDENSEN – Deixando a modéstia de lado e falando do meu gosto pessoal, o Seeds Of Chaos And Serenity é o álbum de Symphonic Metal que mais gostei de ouvir na vida. Acho que tem que ser assim, né? Temos que estar satisfeitos com o trabalho que fazemos e o “SoCaS” é uma monstruosidade do estilo que eu amo. A abertura, Kama Sutra, é bem grudenta e acho que seria um excelente single, até porque adoraria gravar um clipe bem homoerótico pra ela (risos). Shadow of The Colossus capta exatamente a essência do jogo homônimo: a sensação de estar sozinho no mundo, e, do nada, encontrar um gigante que você tem que derrotar, isso acabou dando vida à segunda música mais longa do álbum, com aproximadamente 9 minutos. Serpentarius, nosso primeiro single, é bem alegre e bem divertida, quem ouviu adorou! A faixa título, Seeds Of Chaos And Serenity, é minha primeira sinfonia e espero poder fazer outras no futuro, já que sempre amei as longas sinfonias de Mozart e Dvorak.

MORTICÍNIO PRODUÇÕES – Como está a agenda ultimamente?

DRAKE CHRISDENSEN – Está focada na produção, gravação e divulgação. Os dias tem sido corridos na gravação do álbum e na divulgação da banda.

MORTICÍNIO PRODUÇÕES –Gostaríamos de agradecer à você pelo tempo e atenção cedidos e deixamos o espaço aberto.  Sinta-se à vontade para falarem com o público.

DRAKE CHRISDENSEN – Eu que agradeço pela oportunidade, foi um prazer bater esse papo com vocês! Agradeço demais aos nossos fãs e amigos, nossos Sentinels Of The Starry Skies, pela força nessa caminhada, esperamos que vocês gostem do Seeds of Chaos And Serenity da mesma forma que estamos gostando.

Nenhum comentário: